No início de 2020 nos deparamos com a pandemia do novo coronavírus. A COVID-19 fez com que todos mudassem de hábitos por alguns meses, ficando isolados em suas casas como medida de segurança, conforme a orientação das autoridades de saúde propostas naquele momento.
Foram mantidos apenas os serviços essenciais e de emergência médica. À medida em que as pessoas eram contaminadas, verificamos nos postos de atendimento, hospitais e consultórios que, além dos sintomas respiratórios, estes pacientes apresentavam diversas outras manifestações da doença.
Diagnóstico da dor
Entre estas manifestações, nós ortopedistas, que mantivemos o consultório aberto e atendendo nossos pacientes, passamos a constatar quadros de dor na costas relacionadas com as patologias que comumente afetam a coluna: dores mecânicas por problemas posturais, discopatia degenerativa com ou sem hérnia de disco, artrites, desvios e deformidades da coluna, entre outros. Passamos a verificar também que pacientes que haviam sido acometidos pela COVID-19 apresentavam histórico e queixas de dor nas costas em duas situações distintas: dor aguda na fase inicial da COVID-19 como sintoma isolado ou dor aguda acompanhando os sintomas respiratórios. Não raro, a dor aguda era a primeira manifestação da COVID-19.
Consequências da COVID
No transcorrer da pandemia, fomos verificando também situações de dores ao longo da coluna e algumas com irradiação radicular, persistentes por semanas e até mesmo por meses após remissão dos sintomas respiratórios, acompanhadas algumas vezes de fraqueza, fadiga muscular e, em alguns casos, déficit de força generalizado. Destes pacientes com sequelas da COVID-19 com quadro álgico persistente, conseguimos detectar apenas o comprometimento muscular em alguns casos. Já em outros, o comprometimento neurológico foi evidente, necessitando tratamento medicamentoso e fisioterápico prolongado.
Após um ano do início do novo coronavírus, constatamos uma terceira situação de dor nas costas em nossos pacientes, inclusive nos mais jovens: o isolamento social e a permanência em casa. Durante a pandemia, com as academias fechadas por um longo período e o receio de se exercitar na rua, a maioria das pessoas deixou de praticar atividades físicas e esportes, o que levou à perda de tônus muscular e consequentemente às dores. Detectamos neste grupo a piora das dores nas costas, principalmente nos jovens e até mesmo em crianças, considerando o aumento do número de horas em frente ao computador, sendo em home-office ou em aulas online.
Não podemos deixar de relacionar também o aumento das dores nas costas pelo aumento de peso generalizado da população, que ocorreu neste um ano e meio de pandemia devido a este "novo estilo de vida".
Fatores emocionais
Por último, e não menos importante, os fatores emocionais que contribuíram na incidência aumentada das dores. A angústia, o estresse, a depressão e o medo que tomou conta da população confinada e orientada a não sair de casa, aumentou em diversos casos os conflitos familiares, além dos problemas econômicos e financeiros que surgiram. Como fator importante de dor, tanto física como emocional, não podemos deixar de citar a perda de familiares e amigos ocasionada pela doença.
Considerando a relação que este comprometimento emocional traz no aumento das dores, fomos obrigados a associar ao tratamento dito "ortopédico-fisioterápico", medicamentos ansiolíticos, anti-depressivos ou de estabilizadores de humor, além da ajuda de um profissional psicólogo e ou psiquiatra.